terça-feira, 31 de maio de 2016

Desigualdades sociais na Europa e a educação básica

Postado por: Raphaella Carolina de Oliveira Coutinho




As desigualdades nos resultados escolares dos alunos provenientes das diferentes classes sociais são um tema clássico da Sociologia, alimentando um debate importante sobre o papel dos sistemas educativos na promoção da igualdade de oportunidades nas sociedades democráticas ou, pelo contrário, na reprodução das desigualdades.



No entanto, as transformações sociais e, em particular, nos sistemas educativos justificam um olhar permanente sobre esta questão, o que em Portugal nem sempre tem sido fácil, face à ausência de estudos actualizados sobre a mesma, com amostras representativas da população. Sendo a educação básica hoje obrigatória e efectivamente necessária para a integração no mercado de trabalho e na sociedade, no geral, não deixam de ser relevantes os dados de três pesquisas recentes realizadas no quadro do CIES-ISCTE.
No projecto "Continuidades, Transições e Rupturas: A Distância entre Ciclos de Ensino", tivemos a oportunidade de estudar os percursos escolares de alunos que se encontravam no 7º ano de escolaridade, em 5 escolas do centro de Lisboa (n=189) e em outras 5 escolas do centro de Madrid (n=227). No âmbito de uma unidade curricular do Mestrado em Sociologia - Família, Educação e Políticas Sociais, desenvolvemos também um estudo sobre as trajectórias de alunos no 9º ano, em 12 escolas da Área Metropolitana (n=227).


Como é possível constatar através do gráfico, mantém-se um padrão relativamente estável, segundo o qual os filhos de operários e empregados registam taxas de reprovação no ensino básico bastante superiores aos filhos de empresários e técnicos superiores. O facto de este fenómeno ser mais visível no 7º ano do que no 9º reflecte o facto desta desigualdade de classe ser mais decisiva nos primeiros anos de escolaridade, o que tem sido registado em diversos estudos internacionais sobre o tema.
Note-se que esta clivagem é maior no caso dos alunos com mais do que uma reprovação no ensino básico, sendo este valor ainda significativo no caso dos filhos de operários e empregados executantes. Acresce que, segundo os mesmos estudos, os alunos com duas ou mais reprovações demonstram um claro défice de expectativas, em comparação com os restantes, abdicando do prosseguimento dos estudos, quer na vertente académica quer na vertente profissional. Esta ruptura com as instituições educativas, numa fase tão precoce da formação, irá provavelmente marcar os seus percursos profissionais e de vida, podendo comprometer gravemente a sua inclusão e valorização sociais.
É importante não esquecer que nos países do Centro e Norte da Europa, este valor é praticamente residual. Mesmo no centro de Madrid, a par da quase inexistência de alunos com mais do que uma reprovação, foi possível observar uma diferença menor entre classes sociais, embora, neste caso, se coloque a questão de que a maioria dos operários e empregados executantes a habitar nesta zona são, na verdade, imigrantes cujas qualificações escolares são, em muitos casos, intermédias ou até superiores. Apesar de uma situação actual mais desfavorecida, em termos económicos e profissionais, a experiência cultural e as expectativas escolares que transmitem aos seus filhos são, por conseguinte, mais altas do que os operários e empregados autóctones.

ABRANTES, P.  "Desigualdades sociais na educação básica" Disponível em:http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=projects&id=80.   Acessado em 31/05/2016.

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